28 de novembro de 2010

Mistérios e Segredos do Amor



O silêncio contemplava a espera paciente, o desconforto da idéia do não ver, a falta de toque do artifício eletrônico descrevia a ansiedade da espera, as tentativas frustravam as expectativas. Esperar sussurrava cautelosamente à consciência de que o astro rei logo se punha e com ele também a possibilidade do conhecer, era difícil descrever a euforia que levava a razão à contradição, frutos do imaginar cegavam a consciência para a verdade da excitação. “Bagatelle N°25 em lá menor” ou “Fur Elise” clássico composto por Ludwig Van Beethoven,  destinado a quem o mesmo fizera “a proposta” e fora negada, tocará provando que as expectativas findariam, abrindo portas para um oi, talvez olá. A culpa do tempo, não mais era desculpa para o “por que” da razão, ficou acordado assim, teríamos como testemunhas não mais que o céu, as estrelas e o mar. Iria ao seu encontro, pronto de que o novo se faria oculto. Tamanha minha decepção, ao encará-lo. Fui traído. Traído por meus próprios olhos, denunciado, entregue as suplicas da minha emoção, visivelmente ruborizado, mas por quê? Que razão havia, pra me sentir totalmente desnudo de mascaras na sua presença? Porque não conseguia organizar meus pensamentos a fim de expressa-los como de costume sem medo, sem criticas, sem duvidas, de não aceitações.
Porque me sentia aturdido como se houve recebido todo o impacto de um golpe desferido sem a menor previa de aviso? Porque tinha dentro de mim uma bomba relógio que a cada segundo, parecia pronta a declarar guerra ao silencio que se fazia presente dentro do meu ser.
Como e porque um estranho causara tanto choque e desespero a minha segurança revelando por detrás de todas as mascaras que havia cogitado carregar, não mais que um coração puramente vazio, e inóspito de barreiras contra aquilo que você tinha a oferecer.
A noite conspirara contra mim, fazendo do meu coração o palco para o espetáculo que no qual você estrearia para uma platéia inusitada, e seria aplaudido de pé.
Logo de cara, como se houve ensaiado você cantou a canção dos sábios, O SILENCIO acompanhado da leveza do olhar investigativo maquiado apenas POR UM SORRISO AFETUOSO.
Com a graça de uma criança FORA CURIOSO, porém cuidadosamente consciente com as perguntas que foram sendo feitas com SIMPLICIDADE e CARISMA, a cada palavra demonstrava O INTERESSE cultivado apenas nas personalidades mais belas que tem sede de conhecimento. Como um ladino, com eximia maestria você roubara de mim o direito de defesa contra a invasão da sua personalidade, e foi tomando conta decididamente enxergando o que havia dentro do meu coração. Você falou de promessas, de medos, de expectativas declarando a perfeita harmonia entre a sua razão e a minha emoção, comprando por um preço mais que justo a minha admiração sem interesse algum.
Como golpe fatal, falou de um amor tão puro que não conhecia a força que tem, convidou-me silenciosamente a sentar junto contigo à mesa da paixão e juntos provar o vinho do sentimento alheio, apostando em sonhos e desejos revelando uma ressonância de querer, privilégio a que viríamos partilhar. Afim do querer bem, seu espetáculo digno de reconhecimento fora aplaudido de pé minha RAZÃO em consenso com minha EMOÇÃO escolheram você. Não porque, eu havia conhecido um príncipe, mais sim o AMOR EM PESSOA.

Ricardo Oliveira


19 de novembro de 2010

A deriva

  Não posso ser ingrata com o mar e dizer que nunca me encontrei com o destino desejado, mas certamente posso acusá-lo de não me ajudar. O teimoso sabe que estou aprendendo a velejar, que meus barcos – coloco no plural porque já perdi vários – são simples e movidos a remos, remos que eu preciso conduzir no braço. Todo o processo cansa, e é justamente quando eu acredito demais na calmaria e decido descansar, que o danado resolve se revoltar. Além do mais, me sinto desrespeitada quando isso acontece. Não se arruma barco com facilidade hoje em dia, é preciso ter muita coragem e força de vontade, somadas com um jogo de cintura valoroso.
  Além da “forte personalidade” do mar, tenho que aprender a lidar com saqueadores dos piratas. Como eu, também são viajantes do mar, mas preferem viajar a custa dos sacrifícios alheios. São espertos – esperteza não é qualidade – e dificilmente desfilam de bandeira preta por aí. Normalmente, não se percebe que são piratas até que tudo tenha desaparecido, com eles junto. Pra contar, fica só o prejuízo.
  A questão em si não é o fato de ter me perdido no meio da imensidão do mar. A questão é que não é a primeira, nem a segunda vez que isso me acontece. Encontrei-me assim novamente, como em todas às vezes. O que sobra de um corpo, com um resto de alma, juntando os frangalhos do que um dia já fora um pequeno barco. Meus remos? Sempre perco. Fico tempos a deriva, até ser jogada – ou encontrada – num pedaço de chão seco.
  Lá sabe Deus quantas vezes já velejei. Perdi as contas. Não porque sou desleixada ou não me dedico as minhas viagens, e sim porque sou mais nômade que “maruja”, por assim dizer. A emoção da minha vida até o agora foi navegar de um porto a outro, absorvendo e dividindo riquezas de sabedoria impagáveis.

  As viagens mais longas são assim. O mar sempre me engole. E quando vomita, faz o processo normal do vômito: devolve-me a superfície em restos desgastados, em qualquer lugar, sendo levada a lugar nenhum.
  Ouço criticas. Como ouço! Cada vez que mostro minhas cicatrizes – de tola que sou, ainda mostro – escuto que qualquer um já teria se aportado e encostado os remos em busca de estabilidade. O que não sabem é que minha estabilidade está em ver o mundo, descobrir tudo o que há nele. Mesmo que seja a duras penas, prefiro enriquecer a alma que os bolsos, e desfrutar da liberdade que só o conhecimento dá ao homem. Os piratas podem me levar até as ceroulas, mas o que eu aprendi... Ah, isso é só meu. Meu conhecimento eles não levam, tão pouco desfrutam.
  Agradeço pela ajuda e estadia, não tenho prata nem ouro, apenas gratidão e esse monte de papéis soltos para lhe dar em troca. Já estou recuperada, arranjei barco novo, já passo partir. Preciso seguir viagem, o mundo é grande e o tempo é curto.
  Fique tranqüilo, vou em paz e não tenho medo. Sei que é certo que um dia o mar irá me engolir de vez, e não me devolverá. Neste momento, o imenso rebelde fará diferente. Irá digerir meu corpo, e arrotar minh’alma de forma libertadora com ar de satisfação, para que esta busque esses papeis soltos dos quais lhe falei, acabo sempre deixando alguns por onde passo. Neles sim me aportarei, guiarei novos remos e serei eterna.

Andrezza Mascarenhas

17 de novembro de 2010

Saudade

Sentir saudade é estar perto ou não do sentimento
Saudade é uma palavra nostálgica que quer viver no presente
Saudade de longe é pros que amam de verdade, e são amados
Saudade de perto é a dor dos desprezados
Quem sente saudade vive correndo, tem ânsia
Ânsia de ter, ver, estar... Tem fome, tem pressa
Saudade lembra dor, dor lembra amor, amor lembra ódio
O ódio faz esquecer, por vezes vira remédio antes de ser doença
A dor tem cura, o ódio passa, mas o amor morre
Morre aos poucos, sangrando
E um dia se conforma em não mais esperar
Abre mão de estar, sangrar, sofrer
Contenta-se com há por perto e se faz presente
Amortiza a dor e aceita ser amor
O tempo resolve a dor, o ódio, quase todas as coisas
Só não ressuscita o amor
Uma vez morto, fica enterrado e só
Nada resolve um amor morto, nem a saudade
Saudade de um amor morto é simples, não há muito que explicar
É estar pronto para ter, e precisar estar preparado para abrir mão 

Andrezza Mascarenhas

11 de novembro de 2010

Grito

Num momento como esse,  
Que minha mente não para e eu não consigo me expressar
Recorro a minha criatividade dolorosa para evitar o intenso risco de estourar.
Intensamente  à flor da pele,
Nem as palavras fluem, só sei que estou mais do que nunca, no escuro.
Apostar em pessoas e sentimentos? Para quê?
Não vale perante a fluidez vivida (des)necessariamente,
De tudo que não é, aparentemente sendo.

Lilian Marinho


7 de novembro de 2010

De Alma Lavada

  Parei para pensar, refletir sobre a vida e fiz escolhas que considerei certas – e melhores – para mim, e que de fato estão me fazendo bem gradativamente à medida que vou aplicando ao meu cotidiano. Para ser mais direta, me desvinculei de alguns princípios meus – expressões escandalosas de orgulho puro, e burro – que me impediam de ver além das máscaras, barreiras e falsas palavras que as pessoas costumam usar para se esconder, proteger ou simplesmente pelo puro prazer de conseguir ser o mais desagradável possível.
  Desarmei-me. Não encaro mais nada com pedras prontas para arremessar. Ainda que a princípio a situação não me agrade, tento construir a visão mais panorâmica possível. Ouço, filtro, concordo ou discordo, e me justifico. Parti do principio que não vale a pena travar batalha contra nada, nunca vi verdadeiros vencedores nas guerras históricas, possivelmente – ainda que eu fosse a vencedora – não sairia ilesa das “minhas batalhas pessoais”. Aprendi, com sinceridade, o significado de “perdão” e tratei de perdoar todas as pessoas que me fizeram mal, por ou sem querer. Cada um colhe o que plantou, e eu não quero colher frutos de mágoa, rancor e orgulho besta. Engoli a minha essência egocentrista e auto afirmativa – mas não deixei de ser egocêntrica, ok – e encontrei a humildade, foi dessa forma que consegui pedir perdão a todos os que magoei ou fiz sofrer, de propósito ou não. Pratiquei uma das coisas que eu melhor sei fazer: esquecer. Esqueci todos aqueles que não valem à pena ou não fazem por merecer minha atenção, desses tratei com respeito e muita frieza. Por fim, aprendi a aceitar, entender e respeitar a opinião de cada um, mesmo que eu discorde absolutamente de tudo.
  Todas as decisões que tomei, me deixaram mais leve e muito mais calma. Claro que jamais serei uma das pessoas mais calmas do mundo – muito menos submissa – tenho sangue quente. A diferença é que agora sei “escolher” pelo que vale e que não vale a pena esquentar a cabeça, aprendi a me controlar. Ignorar dói mais que bater de frente, e não me custa nada.
  Como sempre, falar de mim e dos meus sentimentos abertamente não é das tarefas mais fáceis para mim, mas estou num momento dos melhores que já vivi. Acho que me encontro numa espécie de “ponto de equilíbrio entre corpo e alma”, como se meu espírito estivesse em comum acordo com meu corpo, com tudo ao meu redor – até com o que normalmente me deixaria, no mínimo, incomodada – e as situações as quais tenho passado na vida. Procurando uma expressão simples para tudo isso, posso dizer que estou “em paz comigo mesma e todo o resto”. No momento, não ligo para a perturbação que há do lado de fora. Criei uma armadura de bons sentimentos, ela tem me mantido ilesa. 

Andrezza Mascarenhas

2 de novembro de 2010

Da inocência à Sabedoria

  A busca que nos leva ao conhecimento e à sabedoria, não é uma viagem sem sentido feita por ignorantes, é uma viagem interior de transformação, é um processo Alquímico.
  A Alquimia é a arte da transformação, através da compreensão e dissertação de fatores essenciais do ser, é compreender cada ínfimo detalhe da psique, é entender que cada ser humano, por mais diferente que seja, possui características em comum com o todo a sua volta, e é nesse contexto que abordo não só a primeira mais também a parte crucial do “Eu” humano. Eis aquilo que não está contido em textos ou nas buscas por conhecimento. Você poderia afirmar que há INOCÊNCIA na sua compreensão? 
  Todo ser nasce com a alma em estado de inocência, um recém nascido não questiona sua existência, vive num estado de auto-aceitação, confiança e amor em plenitude, a voz inquietante da duvida ainda não se faz ouvir, talvez porque nesta fase a individualidade do ser é quase nula. Quantas vezes questionamos nossa existência em busca de respostas? Entretanto cada questionamento nos afasta mais e mais da inocência, e da intemporalidade, segredo que só existe enquanto vivemos alheios aos conceitos de passado ou futuro. Para um recém nascido só existe o presente que vai se revelando, este é precisamente o significado de viver na eternidade. A eternidade é o momento presente em permanente renovação, quantos de nós não sonhamos com isso? Viver na eternidade? Livre dos conceitos frustrantes do passado ou até mesmo da ansiedade futura que nos açoita diariamente roubando nosso sono e nossa saúde, mas cada um já tem inscrito em si a tendência para se movimentar para a temporalidade, saindo do silêncio do seu mundo interior para a atividade do mundo exterior, abandonando o seu estado inicial de inocência, surgindo os desejos e com eles as primeiras experiências capazes de alterar eternamente a essência do ser. E a inocência? Roubada!? Não. Para sempre intacta em sua pureza e integridade, mas esquecida, trocada silenciosamente pelo conhecimento enfadando a existência a crer na ausência de pureza de espírito.

Ricardo Oliveira


28 de outubro de 2010

Alquimia da Alma - Início

  Hoje descobri, sou um alquimista interior, capaz de alterar o estado imutável do espírito daqueles que me permitem. Acho que posso dizer com convicção: SOU ALQUIMISTA DA ALMA.
  E você? É capaz de permitir que alguém entre na sua psique e altere o estado intransigente da sua mente? Você é capaz de enxergar uma determinada situação do ângulo e ponto de visto do outro? É capaz de se colocar no lugar daqueles que você tanto açoita com seus pensamentos, muitas das vezes até mesmo com suas próprias palavras?
  Vale lembrar, o certo nada mais é do que um ponto de vista, demagogia nem sempre é sinônimo de exatidão na veracidade dos fatos porque, afinal nos damos bem com os inocentes, mais é com os CULPADOS  que nos divertirmos.
  Pense bem antes do julgamento alheio, pois um dia podemos ser o outro... Eis a minha alquimia, transmutação da alma.

Ricardo Oliveira

20 de outubro de 2010

UPP: Programa de Férias para Bandido

  Tenho 20 anos. Vou a Saquarema desde que nasci e nunca ouvi algo parecido com o que me aconteceu no último final de semana. Arrombaram minha casa de praia. Isso mesmo, ARROMBARAM MINHA CASA DE PRAIA em Saquarema – que era um dos lugares mais calmos do Brasil, a capital do vôlei e do surf – e isso acabou com o que me restava de sonho de continuar morando no Rio de Janeiro. Eu amo a minha cidade, mas por conta da TOTAL falta de segurança, terei de ser turista, porque pra morar já está ficando muito perigoso andar por aqui.
  O que mais me revoltou não foi o arrombamento em si, e sim o que levaram - em relação ao que tínhamos e, graças à Deus ainda temos dentro de casa - o que ouvi e o que vi no processo de prestação de queixa e formação do B.O. (boletim de ocorrência). Foi a demonstraçao do total descaso com a segurança do carioca, em todas em áreas.
  Começando pelo o que foi furtado – por favor, não ache graça – vocês irão entender a minha revolta. Levaram uma Tv que meu pai comprou em 96 num brechó – ou seja, era mais velha que isso – uma cafeteira que não funciona bem, um botijão de gás de cozinha quase vazio, colchonetes semi mofados por conta da umidade local, pratos, copos e talheres DESCARTAVEIS, garfos e colheres da prataria do meu bisavô, minha caixinha de música cheia dos meus poemas de menina, comida imperecível e produtos de limpeza. Essas pessoas devem estar montando uma casa, fizeram um “chá de panela” na minha residência de veraneio - e são muito desorganizadas, porque reviraram tudo e nem se deram ao trabalho de colocar no lugar rs - outra coisa bem curiosa é o fato de que eles tentaram entrar exatamente pela única janela que abre se quebrar na altura do trinco, sendo que a porta da frente estava com a chave na fechadura, mas eles saíram pela janela da sala – inteligência é com eles mesmo – com Tv e botijão de gás. Isso pode significar que pelo menos um dos meliantes poderiam já ter entrado na casa, e não foi pela janela.
  Durante o processo de prestação de queixa no DPO local, conversamos – minha mãe, meu pai e eu – com os policiais responsáveis. Dois dos policiais estão nesta unidade desde que me entendo por gente e nos conhece por freqüência na área – e pelas minhas gracinhas de adolescente também rs – eles disseram claramente que isso acontecia raramente por lá, mas depois da implançao das UPP’s no grande Rio, isso virou rotina. Relataram que quase todo final de semana os proprietários das casas de veraneio da região prestam queixa de arrombamento, seqüestro, estupro, assalto à noite na beira da praia, etc. Não querendo afirmar nada – mas já afirmando – percebi que nem a policia (PMERJ) está em comum acordo com o procedimento de ocupação das UPP’s, visto que eles “ocupam” a comunidade e “convidam” os bandidos a se retirar em, no máximo, 48h.
  Depois do longo papo com os policiais amigos – uns dos poucos nos quais eu acredito e confio – partimos para delegacia local de Saquarema, lá tivemos mais uma “surpresinha”: tinha fila para fazer B.O. de “arrombamento de propriedade seguido de furto”. Eu não agüentei – minha curiosidade pode ser mortal um dia, adoro saber das coisas com propriedade – e fui conversar com a delegada – um amor de pessoa, super inteligente e muito competente – conversamos sobre todos os assuntos possíveis a cerca da segurança no Rio, e ela ratificou a opinião dos colegas do DPO. As UPP’s são ineficientes da forma que estão sendo implantadas e não vão resolver problema algum. A longo prazo, cem bandidos que foram expulsos vão encontrar mais gente com “desvio no caráter” e se multiplicaram em mil, voltarão para “casa” ou encontrarão um “novo lar”. Outra coisa que eu achei brilhante na delegada, foi o fato dela se incomodar com o individualismo social que só aumenta, com essa mania de que “se não é problema meu, não me interessa”.
  Voltando as UPP’s, vou fazer uma abordagem breve do assunto. Não sou contra pacificar as comunidades carentes, muito pelo contrario, eu acho que todo o Rio está precisando ser pacificado. O erro está em simplesmente “expulsar” os traficantes e deixá-los soltos por aí. Será que a criatura que bolou essa medida publica de segurança não parou para pensar – nem um pouquinho – que estão trocando seis por meia dúzia? Ô Seu Governador, ô Seu Secretário de Segurança: Vocês tiram os traficantes dos morros e acham que eles vão pra onde? “Ah, pra Igreja é claro, se arrepender dos pecados e ver se arrumam uma vaguinha no céu”. NÃÃO! Eles estão indo pra baixada, pra região dos lagos e invadindo casas – como fizeram com a minha – pra alimentar um novo sistema de crime SUPER ORGANIZADOmais organizado que o plano de segurança de vocês – fora dos grandes centros, e da Zona Sul, é claro. Onde vocês estão aplicando a teoria de que “lugar de bandido é na cadeia”? Façam o favor de parar de queimar o dinheiro publico construindo “Cidades da Música” e construam mais unidades de detenção publica (cadeia). Lugar pra ouvir música tem a dar com pau no Rio, tá faltando mesmo uma boa reforma no sistema prisional (DEGASE), uma melhor atenção a educação, a saúde, AO CIDADÃO. Essa história de UPP já estava me revoltando desde que começou a “onda do arrastão”. Hoje quando ligo a Tv e não vejo uma noticia de arrastão ou tiroteio, fico deprimida, é como se faltasse algo no meu dia – estou ironizando, por favor – tem alguma coisa errada. Agora que o problema invadiu o meu quintal, literalmente, foi a gota d’água. Vocês estão destruindo os meus refúgios do caos total, isso agora é pessoal rs. Saquarema era meu mini paraíso, e agora eu estou com medo até de andar de noite num lugar onde eu dormia na praia.


  Enfim, já falei demais e minha revolta está clara. Se eu pudesse pedir um favor ao governador e ao secretário de segurança do meu Estado, seria: para de pacificar a Zona Sul, pacifica Saquarema primeiro e depois resolve o problema de maquiar a violência do jeito que vocês acharem melhor. Tenho dito.




Andrezza Mascarenhas 

Observação: gostaria de parabenizar os policiais e a delegada de Saquarema por seu pronto atendimento, competência e comprometimento com seus deveres públicos.

27 de setembro de 2010

Correção Automática

  Certas vezes tenho a impressão de que tudo ao meu redor está errado ou conspirando contra mim, pode me chamar de louca, mas a vida tem um “pequeno prazer” em me transformar numa bolinha de ping-pong.
  É aterrorizantemente impressionante como as coisas possuem uma capacidade injustificável de mudar de uma hora pra outra sem aviso prévio rs, e normalmente nunca estamos preparados para essas mudanças ou simplesmente não queremos aceitá-las. Eu nunca estou preparada, mas tenho preguiça de não aceitar.
  Depois de umas três ou quatro mil pancadas que levei da vida, parei de medir forças com ela rs... Coloquei-me na posição de folha solta e aceitei que a vida é o vento – vezes brisa, vezes tempestade – e me permito ser levada para qualquer lugar. Depois que me vejo parada ou simplesmente me encontro “estável”, aceito o momento e aprendo a lidar com ele.
  Pode me chamar de preguiçosa, acomodada, desleixada ou qualquer coisa que se pareça com os três últimos adjetivos que citei, mas já parou para pensar no trabalho que dá bater de frente com a vida? Não é simplesmente “deixar de concordar com o que o presidente da república disse”, é entrar em confronto com o acaso e tentar mudar completamente o curso que as coisas querem tomar. Acredite, isso dá um puta trabalho.
  Tenho 20 anos e 3 meses de idade, nos últimos 20 anos e 2 meses passei a maioria dos meus dias indo contra a corrente, questionando a maioria das direções que a vida me dava, muitas vezes não seguindo nenhuma delas. Simplesmente cansei. Claro que nunca vou deixar de lutar pelos meus sonhos – esses são meus e a vida que não se meta com eles – mas quanto ao resto, vou apenas aceitar. Todo esse tempo de luta sem muita vitória me deixou cansada, desgastada e desacreditada da minha capacidade de mudar o que é destino de fato, aquilo que as pessoas dizem que “já estava escrito” e tal – acho isso uma sacanagem, a vida é minha e estão escrevendo o meu destino por aí sem nem me perguntar se eu estou gostando – já ouvi dizer que essa é a melhor justificativa para que as pessoas consigam aceitar aquilo que não podem controlar ou não querem mudar.
  Esse meu processo de “conformidade” não aconteceu por querer, foi simplesmente a soma dos acontecimentos – ou a vida, de novo – que me fizeram ver que determinadas coisas precisam acontecer, e que quando realmente precisam acontecer, não há força terrena e humana capaz de impedir. Confesso que passei um tempo refletindo, tentando bater de frente com essa minha conclusão, mas aceitei – não tem remédio – e assumo que está mais fácil respirar desde então.
  Farei esforço para atingir minhas metas, para cumprir meus deveres como ser humano que sou – ou pelo menos acho que sou rs – para garantir que minha felicidade não dependa da infelicidade de ninguém e para estar em paz comigo mesma, independente do momento que eu esteja vivendo. Quanto ao resto, e as coisas que são de “competência da vida” não moverei meio dedo, aprendi a acreditar no acaso – fruto da vida, conseqüência de quem vive – e aceito que este me guie.

Andrezza Mascarenhas

8 de setembro de 2010

(In)decisão

  Eu estava tão longe de mim que até escrever estava se tornando uma tarefa impossível, o remédio foi ler... As idéias se misturavam na minha cabeça e no final eu não fazia a mínima idéia de como passar pro papel, ficava pior ainda quando pegava o lápis, o que estava misturado acabava sumindo, e não saía nada mesmo.
  Preciso admitir que isso é conseqüência de um emaranhado de decisões que andei tomando nos últimos cinco meses, todas com a melhor intenção do mundo: deixar de acreditar na bosta do amor, e só assim viver em paz e nunca mais chorar por um imbecil que não mereça as minhas lágrimas.
  É, não deu muito certo rs... As pessoas que me conhecem sabem que eu sou uma mistura estranha, imperfeita e desproporcional de uma menininha super mimada e educada com um molequinho super rebelde e desbocado, e ainda dentro dessa mistura consigo ser fria e sentimental, doce ou muito amarga e é esse “antagonismo humano” que sou... A mistura dos opostos se juntam para “zuar com o meu plantão”, e basicamente calculo todos os meus passos – porque sou fria – e no final não faço a maioria das coisas que calculei – porque sou sentimental – é exatamente isso que aconteceu.
  Tomei friamente, a decisão de cagar e andar para o amor, viver até morrer sozinha, mas como o meu coração não me respeita e nunca me obedece, eu continuei com os meus sonhos de “mulherzinha sentimental, imbecil e iludida” rs – me formar, construir uma vida estável a dois, casar, construir uma família linda, ter dois filhos e quem sabe conseguir isso de uma vez só porque a genética ajuda, fazer a comidinha favorita do meu marido, viajar em família, sonhar com as férias do trabalho para ficar mais tempo com meus filhos, cuidar da minha casa, fazer amor na cozinha (no quarto, no banheiro, na sala, no carro rs), ter um cachorro mais carente que a Kiara (minha cocker spaniel orelhuda) – e em nenhum momento até agora, eu parei para pensar que muito mais da metade das coisas que eu sonho dependem em sua totalidade do amor para acontecer, seja lá qual for a sua origem.
  Tá, eu confesso, sou uma babaca apaixonada – mas também sei jogar futebol e falo palavrão rs – e não importa o quanto eu já tenha sido magoada no passado, eu não consigo me desvincular dessa coisa toda de ser sonhadora e ter uma família... Eu sonho com isso desde pequena, e não é porque não deu certo uma vez, que tem que ficar errado para sempre... Acho que aceito amar de novo, mas não com pressa e sem atitudes calculadas, o mais gostoso do amor é a capacidade que ele tem acontecer devagar, nos surpreender e fazer com que dancemos conforme a sua música, mesmo sem querer, o amor simplesmente nos leva.
  Ok, que lindo... Vamos dar um pouquinho de atenção ao meu lado frio e calculista porque ele está se sentindo desprezado rs.
  Eu posso até me deixar levar pelo amor e tal, mas ficar suspirando pelos cantos é muito “cor de rosa” para mim... Me transformo numa babaca apaixonada com a pessoa que estou amando, e os amigos mais próximos percebem isso porque eu fico mais... “calma”, mas em geral não ando pela rua cantarolando e rindo a toa, isso não dá rs.
  Pronto amor, tá feliz? Eu já acredito em você novamente, e nem demorou tanto tempo assim para passar o “trauma do ex namorado babaca” rs, só não me venha com um parecido senão eu fecho a porta para sempre (mentira rs)... E não querendo ser muito exigente, não faço questão de beleza, dinheiro ou essas coisas fúteis, eu só quero um amor de verdade – amor de mentira dá nessa confusão toda ai rs – e que apenas complete, todo o resto a gente constrói... Dá pra ser!?

Andrezza Mascarenhas 

3 de agosto de 2010

Transobjetivando

Nesse exato momento nem sei mais no que crer porque vejo todas as coisas se tornarem tão inconsistentes, tão valiosas e sem valor, tão cheias de mim e tão vazias de sentido. Tudo que eu queria era entender um pouco mais do meu mundo. Mas não consigo! Quando tudo parece fazer algum sentido em absoluto, vejo que isso se desfaz como pó. Idas e vindas sem final nem recomeço, calma ai tem algo fora do lugar: será o cérebro ou o coração? Não reconheço nenhum objetivo nisso, mas quem disse que tais coisas tem significado ou propósito? Elas apenas acontecem naturalmente. Na nova página que escrevo na crônica de minha vida, eu simplesmente rasguei tudo o que achava belo e importante e julguei como inútil porque nada do que é velho faz sentido. Tudo tão longe dos meus olhos. Existe horizonte? Aonde?  Pode me dizer? Estou aqui a procurar o tal, mas não o encontro! As mil e quinhentas palavras, os pensamentos, as frases ditas e subentendidas são substancialmente nada do que quero ou tudo que me levam a exatamente o ponto que não quero: as minhas  conclusões, ao eterno e infindável ciclo da dúvida, parada no mesmo ponto, quase me pergunto já sobre o sentido da vida. Mas e daí? O que importa? É só mais um texto de uma jovem que não sabe viver sem a droga mais viciante e potente na face da terra. Ah o amor dos apaixonados poetas e leitores, que não vêem nas entrelinhas seus desenrolos e problemas, mas só a beleza egoísta das próprias paixões da mocidade ou de qualquer idade mesmo. Cansada e super saudosa da solidão eterna de uma mente pensadora. Não quero mais entender isto ou aquilo apenas observar tudo e poder subjetivar tudo, ter minha própria visão sem me preocupar com as regras tolas impostas por uma sociedade mesquinha e hipócrita. O desejo é de viver e não ter a vergonha de ser feliz como dizia Gonzaguinha. Pois bem to aprendendo com a vida que isso  é  o interessante e nem um pouco inerte. Vou indo meu bem porque você não perderá mais seu precioso tempo me lendo e tentando entender, pois, é inútil. Eu mesmo me basto. Não totalmente, mas na minha mente em construção isso atualmente é assim, quem sabe daqui há cinco minutos mude e você leia mais um pouco de mim, por enquanto é só.
Me despeço e agradeço sua paciência!  

Lilian Marinho


Parada Cardíaca

  
  Já faz um tempo, coisa de dias, que estou me questionando sobre a freqüência que meu coração está querendo seguir, não sou boa em entender o que ele diz, mas faço o possível – certas vezes, o impossível – para ouvir cada batida e interpretar da melhor forma.
  De um minuto atrás para agora, ele resolveu ficar mudo! É, meu coração não bate mais – calma, não morri – na minha língua, ele deu um jeito de se comunicar direto com a minha alma, sem passar pelo meu juízo... Fazendo uma resenha rápida da situação, estou sendo “ludibriada” pelo meu próprio coração!
  Eventualmente, tínhamos problemas de comunicação, mas ele nunca deixou de responder as minhas perguntas, nunca mudou a linguagem da nossa conversação e sempre passou na sala da razão para bater um papo com o juízo, agora ele pega o corredor do meu corpo e vai direto à minha alma, e ainda entra sem pedir licença.
  Por conta disso, está decidido: não vou atrás dele, nem vou ficar fazendo muita força para entendê-lo... Um dia a gente se encontra no corredor e eu peço uma explicação, no mínimo racional, para ele.
  Dizem que quando isso acontece, é porque o coração encontrou um sentimento grande, puro, verdadeiro e desconhecido, – esse é o meu maior medo – porém o fato dele ter encontrado o sentimento, não quer dizer que o sentimento encontrou com ele, – e é ai que eu me ferro – tudo seria mais fácil se esse imbecil falasse comigo.
  Coração imbecil, num peito imbecil, dum corpo imbecil, duma dona imbecil... Quanta imbecilidade junta, - isso pode até dar em morte rs – chega ser impossível imaginar como uma pessoa consegue viver assim, eu aprendi aprendendo... Não vou dizer que lido bem com isso, mas se não há remédio, remediado está.
  Pensei em colocar um anuncio no jornal, procurando um tradutor ou especialista em batidas do coração, mas os poucos que eu conheço já estão muito ocupados ou não podem fazer nada, - Deus tem muitos corações para ouvir e não tem tempo para ler jornais, cardiologistas não resolvem meu problema – questionei uns dois ou três corações amigos, eles se perderam junto comigo, - um se perdeu tanto que corre o risco de afundar nesse barco comigo – ou deixaram tudo em minhas mãos, covardemente.
  Então, tomei a decisão mais sensata, – ou não rs – estou brigada com o meu coração, se ele não quer falar comigo problema é dele, - na verdade nosso! – eu é que não vou ficar correndo atrás das loucuras que ele arruma, depois eu só me ferro, e de tanto me ferrar, já estou dando aulas de “como tomar pancadas que seu coração ajuda a te dar, e sair vivo disso”.
  É, é isso mesmo coração! Quero mais que você se dane, - mas não para de bater ainda rs – estamos eu e você numa espécie de “recesso de comunicação cardio-afetiva”. 

Andrezza Mascarenhas

27 de julho de 2010

Pérola Pernambucana *









Sábado, 2 de agosto de 2008


   Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.
   Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.
  O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.
  Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.
  Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.
  Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.
  Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.
  Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

  Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
  O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

Observação:
  Não tenho informações do título e da autora do texto, este texto é uma redação feita por uma aluna da UFPE - Universidade Federal de Pernambuco (Recife), que venceu um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa, não mudei a estrutura e nenhuma palavra do texto.

21 de julho de 2010

Confusa conclusão

Hoje, parei para olhar a lua e me peguei pensando em ti.
Você que não tem nome, rosto ou forma em minha memória,
ou será que tem e não reconheço isso?
É, senti saudade de um passado em que eu era amada
simplesmente pelo que eu era.
Lembrei de um tempo que somente a sua presença, o seu jeito,
seu carinho, sua amizade me preenchia.
Agora esta tudo tão longe, embaçado e confuso demais pra entender.
Pois é, não acho um só erro nisso além da omissão, prefiro não comentar,
fugir do assunto ou negar, se necessário.
Prefiro reconhecer isto só no meu íntimo, e particular coração.
A saudade, a ausência e a dúvida, ainda são as três melhores companhias.
Porque a ausência de ti tem sido mais interessante e mais intensa de viver
que  a covarde solidão que a mim reservo.



Lilian Veríssimo Marinho



   

15 de julho de 2010

Tudo novo, de novo

    Olá, você está interessado nesse imóvel? Deve ter visto nosso anúncio, estamos à procura de gente boa e honesta, em primeiro lugar.
    Não querendo falar dos antigos moradores, mas já falando, preciso dizer que foram tarde... Graças a Deus, a probezinha não agüentava mais tanta loucura e maus tratos ao mesmo tempo.
    Exagero? Queria eu estar exagerando... Bendita hora que foram embora, enfim esvaziou-se a casa... Como dizem por aí, “melhor vazia, que mal habitada”!
    Largaram para trás um monte de tralhas, coisas usadas, fotos, lembranças de um passado muito do mal criado, jogamos tudo fora.
    Os ex moradores dessa casa eram burros demais, nunca souberam o verdadeiro valor de uma casa simples, pequena e jeitosinha, viviam de querer fazer obras e mais obras, uma barulheira infernal, tudo era motivo de mudança geral.
  Veja bem, vou lhe descrever como era a casa antes desses animais desastrados passarem por aqui, antes de transformarem aquela coisa linda, numa coisa mal assombrada.
   A casa sempre foi pequena, tinha um jardim lindo, repleto de notas musicais, flores e borboletas, tudo em tons suaves, destacando as cores mais chamativas como pequenos e delicados detalhes... Esses antigos moradores já chegaram estragando tudo!
   Trouxeram sentimentos infantis, e nós sabemos como são as crianças: destroem tudo, porque acham que tudo é brinquedo e que dá para comprar outro a qualquer momento!
  Nos fundos, havia um pomar, dali tirava-se tudo o que fosse necessário para fazer qualquer tempero caseiro, e tudo que se fazia ficava com um gostinho peculiar que só a comida caseira tem, porém mais uma vez os sentimentos infantis atacaram, brincaram de comidinha com tudo, acabaram destruindo o pequeno pomar, daí a comida começou a ficar sem gosto, até chegar ao ponto de já sair do fogo azeda.
  Aqui por dentro, nossa, como era diferente! Aqueles loucos confundiram tudo, colocaram a cozinha na sala, os quartos nos banheiro, o banheiro na cozinha e a sala nos quartos, fizeram obras de grande custo, sim nós permitimos, mas só serviu para tirar tudo do lugar.
   Os resultados? Você quis dizer as conseqüências, não é? Tudo foi aparecendo aos poucos, primeiro a casa ficou pálida, depois as flores foram morrendo e junto com isso, as borboletas foram embora, os tons de cor suave ficaram acinzentados, e as notas músicas lembravam mais uma marcha fúnebre, não sobrou nada de alegre na fachada.
  O pomar dos fundos foi detonado, como eu disse, além das crianças destruirem as plantas, os moradores não cuidavam das mudas como devia, aos poucos foram ficando menos saborosas e morreram, por isso a comida ficou pior. 
  Eles mudaram tudo por dentro, além disso não permitiam que “estranhos” entrassem, fecharam a casa para qualquer visita, e ao menor sinal de aproximação do portão, soltavam cães raivosos, com cede de sangue... Colocaram umas grades com arames enfarpados, também. Até nós, que vínhamos pegar nossa quantia mensal, escolhemos que pagassem por depósito, aprendemos a temer os antigos moradores dessa casa.
   Nossa! Por favor, me perdoe... Mas não deu para segurar as palavras diante das atrocidades que foram feitas a essa beleza de imóvel, uma enorme crueldade!
  Enfim, a casa é isso aí que você está vendo, fizemos muitas obras para que ela voltasse a ser o que era, mas depois da primeira mudança, nada fica como era originalmente, por mais árduo que seja o trabalho de quem está restaurando o imóvel.
  Os cômodos estão no lugar e o jardim está renascendo, ainda são pequenas mudas, mas quando começarem a florescer, você verá que maravilha fica isso aqui ao amanhecer, e é mais lindo ainda ao entardecer (sussurro: é quando aparecem as borboletas, cada uma mais linda que a outra).
 As notas musicais ainda estão se ajustando ao novo cenário, passaram muito tempo acompanhando dor e sofrimento, toda essa alegria é novidade, mas como você está podendo notar, a melodia já está bem agradável.
  O pomar? Sabia que você faria essa pergunta, todos fazem... O pomar já está bem adubado, pronto para receber novas mudas de tempero, dos mais variados e que sejam do gosto do novo morador.
  É, quanto a isso, fizemos uma pequena mudança... Todos os moradores que vieram para cá, encontraram o “canteiro de temperos” pronto, e apenas usufruíram de cada um deles, até que morriam ou acabavam, por isso faremos diferente... O novo morador tem o direito de plantar exatamente tudo o que gosta para temperar sua comida, não vamos “impor” nossas preferências, dessa forma nós acreditamos que não acontecerá mais a catástrofe de acabar tempero, comida azedar, essas coisas corriqueiras, porém incomodas.
  Preço? Não trabalhamos com valores monetários, mas amor, dedicação, atenção, carinho, fidelidade, amizade, já seriam um bom sinal.
  Nossa única exigência é que não saiam quebrando, destruindo, desorganizando tudo novamente, imagino que não faça idéia do trabalho que dá para tentar colocar tudo no lugar, então por favor, pode mudar umas pequenas coisas, mas com muito cuidado... Fora isso, tudo ok!
  Vamos voltar lá pra fora? Essa hora costumamos fechar as cortinas para o Sol não estragar o clima aconchegante do entardecer aqui dentro.
   Bem... Essa é a casa, está bem como anunciamos, não é das melhores do mundo, mas temos certeza que irá atender as suas necessidades, e contanto que você não tenha muitas crianças, o jardim vingará, o pomar também.
   Então, quer se mudar para cá? 

Andrezza Mascarenhas