6 de maio de 2011

Dois Dias

  Atrás da porta eu confessei dois dias de loucura e trinta de lucidez. Como crime, sem culpa, esqueci as formalidades quanto aos assuntos do coração. Estive aqui por um momento e me deixei levar, de algum lugar do paraíso, vi meu mundo perfeito chorar. Clamei por Deus, e meus olhos não puderam ver, não vi a montanha se curvar ao vento, mais vi um rio contornar um monte, vi o amor nascer nas coincidências mais improváveis, olhei aos olhos do tempo e declarei clemência, fiz uma tatuagem nos sentidos da emoção.

  Ante as traições do passado, me enclausurei nas angustias, assumi saudade das boas lembranças. Reconheci o coração contradizer a razão, das minhas loucuras conscientes, carrego na alma o perfume da vida nascido do milagre biológico divino. Presenciei o orgulho destruir nações, diagnosticado pela experiência lógica emocional, falei dos segredos que revelam a loucura, me perdi pra me achar e confessei olhar pra trás e cuspir na cara do tempo padronizado pela perspectiva hipócrita, enfadado a uma existência sem questionamentos, carregando os sonhos de Ícaro, sonhando encontrar meu herói oculto, esperando alforria fui comprado, vivi dois dias de paz em meio às guerras de minha lucidez.


Ricardo Oliveira

Memórias: lembrar ou esquecer?

 Cadente de amor,
o individualismo engrandece a hipocrisia.
Simpática ela chega controla a mente,
cega a razão tal qual amor de
sagitário vai como flexa ao coração.
Disfarço o que tentei desabafar,
enfim caio no precipício da certeza
desabafo as queixas que ousei disfarçar.

No caderno do poeta
quem sabe sonhos minhas verdades,
no caderno do poeta
encontrei segredos da paixão,
no caderno do poeta
lembrei-me de me esquecer.

  Antes de me tornar tão parecido com meus pais, mais até do que esperava ser, eu me lembro da infância inocente, da crença nas palavras, dos prazeres infantis, das curiosidades punitivas e sadias. Valores seqüestrados pela malicia.

EU ME LEMBRO da primeira rosa do amor colegial,
das juras, da entrega, do carinho de mães amigas,
da atenção como a um filho.

EU ME LEMBRO das eternas amizades que fiz
e vi o tempo corromper, das paixões que vivenciei
e o destino se encarregarou de levar.

EU ME LEMBRO que o dinheiro não era tão importante,
lembro que dançar era uma arte, e que fotos eram pra
guardar recordações lembro que bem vestido era estar limpo.

EU ME LEMBRO que o sonho dos dezoitos
não era tão fácil como imaginava aos dezesseis,
e os vinte e três afirma.

  Eu me lembro que dividir e multiplicar eram distintos, que somar era o oposto de subtrair, lembro que a matemática quântica era perfeita e as frustrações furtaram tais certezas.
  Esqueci do passado tão presente no dia a dia, lembro que a pressa me fez solitário numa existência repleta de Companhia, lembro que já quis não lembrar e não soube esquecer, lembro das vezes em que enxerguei a vida tão bela e hoje reconheço os estragos causados pela hipocrisia, lembro que o individualismo era mito e hoje é fato, lembro que esqueci.

Ricardo Oliveira

Língua em brasas

Não entendo anistia.
Pago o descaso com apatia, porque 
dissimular empatia se o que existe é hipocrisia?
Vivemos uma epidemia, o orgulho
tornou-se a droga de contenção à depressão







Compomos uma canção intolerante que deveria 
ser solução dentre fortes, fui fraco admitindo culpa 
me contaminei de humanidade mostrado emoção.
Fui imprudente e acabei vendido pela razão,
 a fraqueza me fiz mortal passível de comoção

  Assumi minha depressão. Neguei minhas próprias verdades a fim de renunciar a intransigência de uma existência drogada pela prepotência irracional, em brasas apagadas, minha língua queima e cospe sinceras desculpas por seguir na contradição social.

Ricardo Oliveira